Alimente-se de Amor ( o próprio )
- historiasdasu
- 23 de mar. de 2018
- 5 min de leitura
Um novo começo ...

Gosto de recomeços. Encerrar capítulos com pouco conteúdo onde o final da história é por e simplesmente a tímida rotina a rodar a baiana em modo automático. Tenho urticária à rotina. Adoro rasgar a página e recomeçar numa folha em branco. Aquele cheirinho a novo, é aquele boost que a vida precisa de quando em vez. O ano tinha poucos dias de novo, quando numa rede social instagramável se apregoava um detox de 30 dias para mudar de vida, ao bom estilo do faroeste Paleolítico, pela Guru Joana Moura (autora, criadora, coach e mãe).
Aquilo entoou cá dentro. Mudar de vida era o nome de uma das 12 passas que tinha mascado até à exaustão umas noites antes. O eco fez-se sentir até de uma forma um pouco manhosa confesso, visto que fazia uma alimentação muito vegetariana confitada a pão com manteiga e polvilhada a açúcar processado. Uma miscelânea digna de muitos refegos acumulados lentamente ao longo dos meses, em modo “urso polar hibernação a full time”.
A questão do peso não me incomodava particularmente, a roupa fazia o seu papel e o verão já ia longe, mas não me sentia EU. Então EU enquanto escritora de um livro com receitas saudáveis, enquanto ser humano que defende a paixão pelo saudável a ferro e fogo, andava a lambuzar-me em doces de manhã à noite? Como assim? Bom garfo poderia ser o meu primeiro nome, retiro um prazer imensurável na arte de bem comer, mas no último ano a minha relação com a comida eram uns Pirinéus cheios de avalanches perigosas.
Estava a alimentar um castor irrequieto, comia para preencher um emocional devastado por um tsunami tropical, as alarves investidas em processados e açúcares eram um penso rápido numa ferida aberta constante. Ahhhhhh chega!!! Vamos lá tomar as rédeas disto, antes que o cavalo corra desenfreado pasto fora. Paleo implica um grande consumo de proteína animal, o que para quem só gostava de comer folhinhas de digestão rápida para afinfar em toda a espécie de chocolates existente no mercado, foi assim um passo de dinossauro.
Aceitar ser Paleo naquele período de tempo foi quase tiro ao alvo. Não sabia grande coisa acerca desta filosofia, mas sou muito de instintos, de ouvir o que vai cá dentro e algo me dizia para tentar ser uma Paleo girl. Inscrevi-me no coaching sem maturar muito no assunto. Sem esperar, conheci um grupo de mulheres fantásticas, pesos diferentes mas objetivos iguais, fomos seguidas durante 30 dias por duas coachs que nos deram as melhores ferramentas para comer bem, comer saudável, comer com consciência sem ter de andar a injetar açúcar a cada 5 minutos pelo corpinho adentro. Todas seguimos o mesmo molde, mas como seres autónomos e únicos que somos, manifestamos reações diferentes.
Aquilo que vos posso relatar é unicamente a minha experiência, vivida na 1ª pessoa e com ela espero encorajar aqueles limbos de corda bamba a dar o salto para o outro lado. Vale tanto a pena sair do nenúfar e arriscar. Roer a corda a um bom pãozinho e introduzir na nossa vida tantos sabores novos e cheios de Paleo. Comecemos pelas manhãs, pelo despertar do organismo. Outrora barrado a manteiga, compotas, manteiga de amendoim e muito glúten… dei lugar a ovos mexidos, legumes, fruta, sementes, frutos secos e gorduras boas. Sim, há as boas e as más, as amigas e as inimigas. Há que as topar ao longe. As minhas manhãs hoje, 2 meses após o primeiro dia de detox pautam-se por pratos cheios de vida, sempre com proteína animal (ovinhos de galinhas felizes), um ou dois legumes, uma fruta (as menos doces, como o kiwi, frutos vermelhos, frutas cítricas) e uma fonte de gordura amiga (abacate, côco, frutos secos).
Aprendi a controlar a saciedade, a comer e degustar ao sabor de uma brisa suave. O corpo passa por uma montanha russa de emoções e sensações ao longo dos primeiros dias. Está a purificar. É normal sentirmos enxaquecas, fomes absurdas, desregulação intestinal, tonturas e uma panóplia de coisas giras para hipocondríacos (como eu). Passada a fase dos xiliques, a máquina começa a fazer o up grade e tudo estabiliza, como se quer. A energia volta
em flecha, as noites são de bebé, a pele reluz e os refegos dissipam-se.
Do mito criado, sabe Deus onde, de comer a cada 3 horas, nós no estilo de vida Paleo comemos apenas 3 vezes ao dia. A tentação de mergulharmos nos snacks passa ao fim de quinze dias de detox (para além disso chama-se lontrice aguda). Vamos sentir vários tipos de fome, as marotas que nos querem testar e a fome real, a que devemos efetivamente alimentar. É uma aprendizagem constante. O almoço pressupõe ser muito rico em proteína para aguentarmos até ao jantar sem meter o pé na jaca. Numa fase de perda de peso (aka massa gorda) os hidratos são personas non gratas, a regrar, a controlar, a fintar, a passar para o outro lado do passeio se necessário. Porque são uns fofos que nos metem refegos num ápice. Quem mexe o corpinho regularmente pode ter esse luxo. Uma batatinha doce aqui e acolá. Engrenagem feita, em 30 dias os resultados foram adrenalina pura para me inscrever em mais 30 dias logo de enfiada.
A regulação hormonal estabiliza, as fomes são mais reais, as compras do supermercado circundam-se ao perímetro dos frescos, a energia pede treinos ao ar livre e o sorriso é o nosso dress code preferido. What else? O peso continua a descer, o ego a insuflar, o corpinho a rejubilar de alegria. Afinal, ser saudável é isto. Saber ler rótulos, andar de lupa para perceber onde estão os açúcares escondidos e estrategicamente camuflados pela indústria, equilibrar a paixão pelos legumes e abrir horizontes a sabores novos, treinar o palato ao biológico e ao sazonal. Em linhas muito generalistas, tudo o que é transformado vezes sem conta industrialmente, tudo o que contém rótulos de ingredientes que mais parecem folhas A4, tudo o que vicia e sabe bem e nos leva a uma compulsão alimentar… é para desconfiar.
Não mencionei a palavra “dieta” porque não acho que seja o adjetivo adequado ao meu status atual. Não estou propriamente de dieta, estou a aprender os princípios da alimentação Paleo e a sentir in loco todos os seus benefícios. A longo prazo, enquanto estilo de vida são gigantes. Enumero o bem estar físico e emocional como a base desta pirâmide, aquilo que sentimos quase como causa efeito é a diminuição da compulsão por doces e a perda de peso (quando é esse o nosso objetivo). Esta experiência veio abrir um arco íris brilhante e cheio de luz na minha vida. A causa efeito que falei anteriormente também se coloca à crescente energia que transmitimos quando nos sentimos bem. Ao Amor que colocamos no prato, ao Amor que nos alimenta, ao Amor que damos ao próximo, ao Amor que semeamos por nós e em nós. E é esse Amor que quero partilhar convosco, o próprio. Alimentem-se de Amor, invistam em vocês, não deixem que o polvo conforto seja o gps da vossa vida.
Arrisquem em novas aventuras, mesmo sem saber o que vos espera do outro lado.
Rita Malvar

Olá Rita! Adorei suas palavras. Eu a 1 semana decidi mudar de estilo de vida, praticando exercícios e me alimentando o melhor que posso. Continua a escrever que tenho a certeza que irá inspirar muita gente. Parabéns!